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Retomada é fato, mas recuperar investimento é fundamental para sustentação, diz Giannetti

Por Raimundo Bezerra em 04/12/2020 às 13:00:54


Economista disse na Live do Valor que é possível prever alta de 3,5% a 4% para o PIB em 2021, mas faz alerta sobre incertezas Os números oficiais da atividade brasileira no terceiro trimestre, divulgados ontem pelo IBGE, mostram que a recuperação econômica é forte e real, ainda que o país continue abaixo do nível do fim de 2019 (pré-pandemia) e "muito abaixo" do pico registrado em 2014, avalia o economista e escritor Eduardo Giannetti. "A retomada é um fato concreto, estamos no início dela", disse na Live do Valor desta sexta-feira.

Sem risco de otimismo exagerado, afirma ele, é possível prever um crescimento de 3,5% a 4% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2021. Só o carregamento estatístico para o próximo ano - ou seja, se o país não registrar nenhum crescimento na margem em 2021 - já garantiria um avanço ao redor de 2,5%, observa o economista. "Mas é muito importante a recuperação do investimento, é fundamental para que tenha sustentação", acrescenta Giannetti.

Além disso, três incertezas ameaçam esse cenário. Uma delas é a dinâmica da pandemia, já que o Brasil vive um agravamento no número de casos de covid-19. "Temos boas notícias em relação à vacina, mas precisamos ver como isso se concretiza. Devemos saber melhor no primeiro trimestre do ano que vem. Mas é muito auspicioso", diz Giannetti.

Outro risco dependerá de como o país vai reagir à suspensão dos estímulos extraordinários, como já acontece com a redução do auxílio emergencial.

"Por fim, há o comportamento humano. Não sabemos como ele reage e muda depois de um trauma dessa magnitude. Será que esses consumidores vão ficar extremamente cautelosos? Vão querer poupar uma fatia maior de renda do que faziam no passado? Será que os investimentos vão voltar? Não é fácil, de antemão, saber como pode impactar uma pandemia, um susto, um pânico como o que vimos em 2020."

Na avaliação de Giannetti, o desafio da sociedade brasileira a partir do próximo ano será garantir a recuperação da ancoragem fiscal - da qual foi preciso abrir mão durante a emergência da pandemia - e, ao mesmo tempo, atender "às legítimas demandas de sustentação de renda de grupos vulneráveis", afirma ele.

"Foi preciso um enorme trabalho de sustentação de renda e de atividade com o auxílio a pessoas e empresas, o que fez a dívida pública saltar de algo como 75% do PIB para algo como 95% agora. Não é o abismo, não é o fim do mundo, países como Itália e Japão convivem com dívida pública acima de 100% há muito tempo. Mas vai exigir cuidado, temos que recuperar a ancoragem fiscal no Brasil, para perceber num horizonte que a dívida pública não vai continuar crescendo no próximo ano como foi neste", diz Giannetti.

Ele cita como exemplos de caminhos nesse sentido os debates sobre reforma administrativa, política de reajuste do salário mínimo, privatizações e concessões e a manutenção dos juros primários baixos.

"Se aumentar em 1% o juro médio sobre a dívida do setor público, gera um gasto adicional de R$ 70 bilhões por ano. São dois Bolsa Família anuais. Se houver um problema inflacionário ou a percepção de riscos agravados em relação à solvência do setor público que leve ao aumento de juros, se esse acidente acontecer, vamos estar em situação extremamente delicada", afirma.

Sob essas condições, Giannetti diz que a atenção aos vulneráveis passa pela consolidação de programas sociais já existentes, com melhor focalização. "Grupos que não precisavam de auxílio emergencial capturaram, inclusive pouparam. Foram muito lenientes no critério de aceitação de quem estava habilitado para receber", diz ele.

As ações do governo no campo econômico, porém, andam a passos lentos. "Estamos com dois anos de governo e o Executivo ainda não apresentou sua proposta de reforma tributária", afirma Giannetti. "O governo está se omitindo escandalosamente e não está ocupando o lugar de liderança que o Brasil precisa."

Medidas consideradas importantes pelo economista, como a reforma da Previdência e a lei do saneamento, até passaram, mas "graças ao pró-ativismo do Congresso também", ele lembra. Falando sobre o campo econômico, Giannetti avalia que o governo "deixa muito a desejar" e não está "sequer cumprindo as promessas que fizeram na campanha".

"Só que o tempo já passou, já estamos na metade do mandato. Daqui a pouco os hormônios da eleição aparecem. Meu temor é que, assim como já houve guinada populista na política, o próximo passo é a guinada populista fiscal", diz ele, ponderando que a figura de Paulo Guedes à frente do Ministério da Economia ainda ajuda a afastar essa possibilidade.

"Mas, se ele for substituído num cenário de encaminhamento para eleição, apertem os cintos, porque a guinada populista está se erguendo."

Ana Paula Paiva/Valor

A entrevista, conduzida pelo editor de Brasil, Sergio Lamucci, pode assistida na íntegra pelo site e pelas páginas do Valor no YouTube, no LinkedIn e no Facebook.

Fonte: VALOR ECONOMICO

Tags:   Valor
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