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IGP-DI comprova "um espalhamento da inflação" na cadeia produtiva, diz FGV

Por Raimundo Bezerra em 06/11/2020 às 14:20:28


"Esse espalhamento vai continuar e manter os IGPs altos até fim de 2020", afirma André Braz, economista da entidade A inflação apurada pelos Índices Gerais de Preços (IGPs) foi, mais uma vez, impulsionada por commodities mais caras no atacado, com a aceleração do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) de 3,30% para 3,68% entre setembro e outubro. O desempenho levou a taxa em 12 meses do IGP-DI a subir de 19,02% para 22,12% no período - com a aceleração de 55,95% para 64,08% na taxa em 12 meses das matérias-primas brutas atacadistas. "Nunca antes a inflação de matérias-primas tinha ficado tão alta", afirmou André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele acrescentou ainda que a inflação em 12 meses de IGP-DI até outubro foi a maior desde julho de 2003 (24,14%)

Para o especialista, o IGP-DI comprova que tem ocorrido "um espalhamento da inflação" na cadeia produtiva. "Esse espalhamento vai continuar e manter os IGPs altos até fim de 2020", afirmou ele.

elluisx/Pixabay

Na prática, as frequentes altas de preços de commodities de origem agropecuária e mineral nos últimos meses têm empurrado para cima os preços dessas matérias-primas, observou Braz. Para ele, como não há ambiente favorável no momento para efetuar repasses dessas altas de custos aos produtos finais, devido à atual crise causada pela pandemia, é possível que esses repasses de aumentos de preços na produção seja efetuado com maior força no próximo ano, com a previsão de economia mais aquecida em 2021. "Existe ali nas matérias-primas brutas uma 'gordura' inflacionária'" notou.

Ao detalhar a inflação pelo IGP-DI entre setembro e outubro, o economista informou que, com as commodities mais caras, a inflação atacadista apurada pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo - Disponibilidade Interna (IPA-DI) saltou de 4,38% para 4,86% entre setembro e outubro. Houve altas expressivas em soja em grão (15,82%), milho em grão (17,32%) e bovinos (5,43%) no atacado, no IGP-DI de outubro. Somente a soja tem peso de mais de 10% no total do IPA-DI, lembrou ele.

Ao ser questionado sobre o repasse dessas altas de preços em commodities, muitas delas matérias-primas usadas para elaboração de produtos finais no varejo, o especialista informou que isso já está ocorrendo. Ele explicou que a inflação do varejo apurada pelo Índice de Preços ao Consumidor Disponibilidade Interna (IPC-DI), diminuiu de 0,82% para 0,65%, entre setembro e outubro, devido ao menor ritmo inflacionário em Alimentação (de 1,81% para 1,69%). "Mas isso [a diminuição da taxa] ocorreu por menor pressão de altas de preços sazonais entre os alimentos", afirmou ele. "Já está ocorrendo repasse de preços [do atacado para o varejo]; uma inflação em Alimentação próxima a 2% ao mês ainda é muito alta", avaliou.

O técnico comentou que para os IGPs diminuírem ritmo de avanço, e não se posicionarem mais com taxas próximas a 4% ao mês, seria preciso que o patamar de dólar estabilize mais; ou que o real se valorize mais ante o dólar. Ele lembra que com o dólar oscilando e em alta, isso mexe com preços de importados e de commodities - o que afeta a inflação atacadista, 60% dos IGPs. Mas até o momento, não há sinais de que tanto a estabilidade quanto a valorização possam ocorrer, admitiu.

Ele recomendou que, caso o governo possa lançar um discurso com compromisso maior na área fiscal no país, isso possa talvez contribuir para diminuir a oscilação do dólar, até o fim de 2020.

Fonte: VALOR ECONOMICO

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