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Foi o primeiro ano desde 2006 em que Pequim não emprestou dinheiro para governos da região por meio de seus bancos Em 2020 a China não fez nenhum empréstimo para a América Latina e Caribe. Foi o primeiro ano desde 2006 em que Pequim não emprestou dinheiro para governos da região por meio de seus bancos. Segundo analistas, a pandemia e a deterioração das condições financeiras dos países contribuíram para isso, o que fez a China ficar mais cautelosa e menos disposta a financiar governos e projetos arriscados. China zera financiamento à América Latina em 2020valorAo analisar empréstimos do Banco de Desenvolvimento da China (CDB) e do Banco de Exportação e Importação (Eximbank) — bancos estatais que mais emprestam à América Latina — relatório do centro de estudos Inter-American Dialogue, de Washington, e da Universidade de Boston mostra que não foram emitidos novos financiamentos para governos nem empresas da região em 2020. O estudo diz que “a capacidade da China de oferecer financiamento de Estado para Estado “foi afetada pela pandemia, que também dificultou a execução de grandes projetos de infraestrutura” na região. A pandemia acelerou um processo que vinha ocorrendo nos últimos cinco anos. Desde 2016, o total de empréstimos chineses para a região vêm caindo de forma acelerada. Segundo o China-Latin America Finance Database, do Inter-American Dialogue, os empréstimos chineses para a América Latina foram de US$ 21,5 bilhões em 2015 para US$ 1,1 bilhão em 2019. “Também por causa da pandemia governos latino-ameicanos não estavam particularmente interessados em promover grandes projetos de infraestrutura”, afirma Margaret Myers, diretora do programa de Ásia e América Latina no Inter-American Dialogue e uma das autoras do relatório. Por outro lado, argumenta Myers, bancos chineses estão mais voltados para a Iniciativa do Cinturão e da Rota (Belt and Road Initiative, BRI) em setores como tecnologia e saúde, que ganharam força no ano passado com temas como 5G e vacina contra a covid-19. Nos últimos anos, esse tipo de financiamento pela China encontrou dificuldades, como atraso de obras, projetos de baixo retorno e deterioração das condições financeiras de países que não conseguem pagar a dívida com Pequim.A Venezuela é o principal exemplo. O país foi destino de 45% do total de US$ 136 bilhões de empréstimos de bancos chineses desde 2005, mas não recebe nada de Pequim desde 2017, segundo dados do Inter-American Dialogue. Pepe Zhang, do Centro para América Latina Adrienne Arsht, do Atlantic Council, afirma que desde 2015 houve uma curva de aprendizagem da China, que agora está mais cautelosa.“Certamente, a piora econômica desses países tem um peso importante nas decisões do governo chinês. Além de menos empréstimos para esses governos, Pequim passou a exigir projetos de maior qualidade, que sejam sustentáveis e deem retorno”, diz. “Essa aprendizagem vem antes mesmo da pandemia. A China quer colocar seu dinheiro onde for economicamente mais interessante.”Em fevereiro de 2020, o Ministério do Comércio da China e o CDB emitiram um comunicado no qual ressaltam que a alta qualidade de projetos e das empresas seria levada em conta para a aprovação de financiamento de baixo custo e empréstimos para capital de giro. Em contraste com empréstimos entre Estados, via bancos públicos chineses, os fundos conjuntos — como o Fundo de Investimento em Cooperação Industrial China-América Latina e Caribe (CLAI) e o Fundo de Cooperação China-América Latina e Caribe (CLAC) — deram seguimentos a projetos também durante a pandemia. Em abril de 2020, o CLAI financiou a aquisição da distribuidora de energia peruana Luz del Sur pela chinesa Yangtze Power.“Parte disso deve-se ao fato de os fundos envolverem empresas chinesas e não empréstimos entre Estados”, afirma Zhang. “Além disso, esse tipo de financiamento tem como foco áreas específicas, como energia, infraestrutura e transporte.” Em 2021 dificilmente haverá retomada forte dos empréstimos no âmbito Estado-Estado da China para a região, diz Zhang, mas negociações em curso indicam alta em relação ao ano passado. Myers lembra que o governo chinês ofereceu US$ 1 bilhão para ajudar governos da região a usarem suas vacina contra a covid-19 e há negociações em curso com o Equador para um novo empréstimo de US$ 2,4 bilhões.Pela primeira vez desde 2006, Pequim não fez nenhum empréstimo para governos ou empresas da América Latina. Pandemia e maior cautela da China nos financiamentos externos explicam a queda.
VALOR ECONOMICO