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'Chegou a hora do troco'

A hora e a vez das vítimas de Bolsonaro se rebelarem contra ele

Ensina-se nos quartéis que o bom comandante jamais abandona feridos e mortos em meio à batalha


No dia 6 de setembro de 2018, o deputado federal Marcelo Ãlvaro Antônio (PSL-MG) estava junto a Bolsonaro quando o então candidato a presidente foi esfaqueado em Juiz de Fora.


Ele foi um dos homens que carregou Bolsonaro até um carro, levando-o para o hospital onde seria operado de emergência. Atravessou a noite em vigília. Visitou-o depois em São Paulo.


Bolsonaro jamais o esqueceu. Ãlvaro Antônio foi nomeado ministro do Turismo. Acabou derrubado pela denúncia de que fizera parte de um esquema de candidaturas-laranja no PSL.


O suposto esquema não foi provado até hoje. Principal aliado de Bolsonaro em Minas há 4 anos, Ãlvaro Antônio era pré-candidato ao Senado nas eleições de outubro próximo. Bolsonaro preteriu-o.


No lugar dele, escalou o deputado Cletinho Azedo, do PSC. A companhia de Ãlvaro Antônio não lhe faria bem porque lembraria o caso das candidaturas-laranja. Bolsonaro acima de tudo.


Damares Alves, fidelíssima servidora de Bolsonaro como ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, quis lançar-se candidata ao Senado no Espírito Santo pelo partido Republicanos.


Bolsonaro não deixou. Preferiu apoiar Magno Malta (PL), pastor evangélico como Damares, que rezou ao pé de sua cama quando ele esteve entre a vida e a morte em Juiz de Fora.


Então, Damares quis lançar-se candidata ao Senado no Amapá. Aí foi a vez do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) não deixar porque ali ele manda. Bolsonaro deu razão a Alcolumbre.


Com o apoio de Michelle Bolsonaro, Damares lançou-se candidata ao Senado pelo Distrito Federal na chapa do governador Ibaneis Rocha (MDB), que tentará se reeleger.


Não durou muito. Bolsonaro tirou-a da chapa e indicou Flávia Arruda (PL), sua ex-ministra da Secretaria de Governo. Damares está inconsolável. Diz que será candidata avulsa ao Senado.


Ãlvaro Antônio jura lealdade eterna a Bolsonaro (a conferir mais adiante). Damares, por ora, nada jura. Durante a campanha, Bolsonaro corre o risco de ser alvo de fogo amigo, ou ex-amigo.


Em 2019, ele demitiu o cientista Ricardo Galvão da presidência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais por ter divulgado dados desfavoráveis sobre o desmatamento na Amazônia.


Galvão se filiou à Rede Sustentabilidade e anunciou que vai concorrer em São Paulo a uma vaga na Câmara. Na terça-feira, 2, Galvão postou um vídeo onde diz:


"A ciência brasileira resistiu e continuará resistindo a Bolsonaro".


O ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil) é candidato ao Senado pelo Paraná. Foi ministro da Justiça e saiu do governo brigado com Bolsonaro. Tem evitado criticá-lo diretamente, mas até quando?


O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (União Brasil) também vai disputar as eleições em Mato Grosso do Sul. Bolsonaro o demitiu e não cansa de criticá-lo. A recíproca é verdadeira.


Tem um celular por aí com registros de conversas entre Bolsonaro e o ex-ministro da Secretaria-Geral Gustavo Bebianno, demitido sem completar um mês no cargo. Bebianno morreu um ano depois.


A memória do celular assombra Bolsonaro e seus filhos, bem como o que sabe e começa a contar aos poucos o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, outro demitido.


Não se faz política sem vítimas, ensinou o deputado Ulysses Guimarães (MDB-SP), líder da oposição à ditadura militar de 64 e condestável da Nova República instalada no país em 1985.


Ocorre que quem faz vítimas um dia pode trocar de lado.





Texto: Ricardo Noblat
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Metrópoles

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